quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Simplicidade

Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho.

Clarice Lispector

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Amizade

Nada, jamais, substituirá o companheiro perdido. Velhos camaradas não se criam. Estas amizades não se refazem: ao plantar um carvalho, é vã a esperança de poder gozar brevemente de sua sombra.

Saint-Exupéry

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Felicidade

O sofrimento é o intervalo entre duas felicidades.

Vinícius de Moraes

sábado, 11 de dezembro de 2010

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Instantes

Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido, na verdade bem poucas coisas levaria tão a sério.
Seria menos higiênico.
Correria mais riscos, viajaria mais, contemplaria mais entardeceres, subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares onde nunca fui, tomaria mais sorvete e menos lentilha, teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata e produtivamente cada minuto de sua vida: claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver, trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida, só de momentos, não percas o agora.
Eu era um desses que nunca ia a parte alguma sem um termômetro, uma bolsa de água quente, um guarda-chuva, e se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver, começaria a andar descalço no meio da primavera e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua, contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais crianças, se tivesse outra vez a vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos e sei que estou morrendo.

Jorge Luís Borges

sábado, 4 de dezembro de 2010

Mais Manoel de Barros...

O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia a volta atrás de casa.
Passou um homem depois e disse: essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada.
Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

Manoel de Barros

Manoel de Barros, sempre...

Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas tem o sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncios.
Para encontrar o azul eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.


Manoel de Barros

Ana C.

Estou Atrás
do despojamento mais inteiro
da simplicidade mais erma
da palavra mais recém-nascida
do inteiro mais despojado
do ermo mais simples
do nascimento a mais da palavra.


Ana Cristina César

Igualdade Intelectual

Não pude deixar de pensar, enquanto olhava as obras de Shakespeare na prateleira, que o bispo não tinha razão pelo menos nisso: teria sido possível, completa e inteiramente, a qualquer mulher ter escrito as peças de Shakespeare na época de Shakespeare. Permitam-me imaginar, já que é tão difícil descobrir fatos, o que teria acontecido se Shakespeare tivesse tido uma irmã maravilhosamente dotada, chamada, digamos, Judith.
Sua extraordinariamente dotada irmã, suponhamos, permanecia em casa. Era tão audaciosa, tão imaginativa, tão ansiosa por ver o mundo quanto ele. Mas não foi mandada à escola. Não teve oportunidade de aprender gramática e lógica, quanto menos ler Horácio e Virgílio, pegava um livro de vez em quando, talvez um de seu irmão e lia algumas páginas. Mas nessas ocasiões os pais entravam e lhe diziam que fosse remendar as meias ou cuidar do guisado, e que não andasse no mundo da lua com livros e papéis.

Virgínia Woolf

Dezembro

Seja bem-vindo, dezembro! Sua chegada representa o fim de um ciclo para o início de outro.
Quando a razão não nos basta para explicar nossas angústias e felicidades, recorremos constantemente à magia. É o número da sorte, a cor da sorte, entrar com o pé direito, ou qualquer coisa do gênero.
Sempre tive tendência a preferir anos pares. Por que? Não sei. Acreditava que trazia sorte. Porém, 2010 veio para desmistificar minha magia particular. Foi um ano penoso.
Que venha 2011, ano ímpar. Que traga consigo toda a leveza que faltou ao ciclo que se encerra. E como acreditar em magia faz um bem enorme ao coração, a mudança de década na minha vida pode significar que este é o momento ideal para alterar minha magia. Sim, a partir de agora acredito profundamente que os anos ímpares trarão consigo o que de melhor houver para todos nós.
Portanto, adeus, goodbye, adiós, au revoir, addio, 2010!!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Geografia Carioca

O Rio de Janeiro é uma das poucas cidades que você não pode ignorar. Tem cidades que você quase que ignora, o cenário e a geografia dela. Você fica só com a história e descarta a geografia. O Rio de Janeiro se impõe na sua geografia pela beleza e pela sedução. O Rio é uma cidade muito sensual, cidade de sol. Quando se pensa em Rio de Janeiro você pensa em sol, mar. Estas coisas você capta pelos olhos, pela pele. A relação do carioca com a cidade é uma relação muito sensual. Eu sempre digo que o Rio de Janeiro é uma cidade mulher. É uma cidade feminina. E ela captura homens e mulheres pela sua sedução.


Luiz Alfredo Garcia-Roza

sábado, 27 de novembro de 2010

Cidade Maravilhosa

A recente onda de terror instaurada pelo tráfico nas ruas do Rio, só faz reafirmar nosso amor incondicional pela cidade, que, apesar de tão maltratada, sobrevive impoluta em meio à violência. Ela é maior e sairá vitoriosa dessa guerra. Acolhedora, acordou linda nesta manhã de sábado e continuará a nos brindar com sua beleza. A despeito da violência, seu eloquente encanto nos diz, a cada amanhecer, que seus algozes não serão suficientes para derrotá-la.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Mulher

Não se nasce mulher, torna-se.

Simone de Beauvoir

Lucidez

Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher...
Hoje cedo desejei ardentemente ser a garota que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena...
No entanto, não quero acreditar: um ato de fé é o ato mais desesperado que existe e quero que meu desespero pelo menos conserve sua lucidez. Não quero mentir para mim mesma.

Simone de Beauvoir

Felicidade

Não há que se ter vergonha de preferir a felicidade.

Albert Camus

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Poder Paralelo

Os últimos episódios de violência no Rio estão envoltos numa série de questões que carecem de incansáveis debates da sociedade.
Todos nós já sabíamos que a implantação das UPPs nas comunidades dominadas pelo tráfico era uma medida paliativa. Levar a presença do Estado à comunidade apenas como forma repressora não resolveria o problema. Não houve uma ação conjunta de políticas públicas de educação e saúde, por exemplo. Somente a polícia não pode resolver um trágico fenômeno social consolidado há décadas. A ação deveria ser conjunta e heterogênea. A polícia deveria estar acompanhada de outros profissionais que prestariam serviços que, historicamente, nunca chegaram às comunidades.
Outra questão que foi absolutamente desconsiderada pelo governador e seus técnicos foi a inexistência de planejamento de retirada daqueles que comandavam o tráfico nas comunidades. A Secretaria de Segurança anunciava com alguns dias de antecedência que haveria ocupação de determinada comunidade. Assim, os traficantes tinham tempo suficiente para arrumar suas malas e saírem tranquilamente, sem serem importunados. Esses homens não foram retirados do convívio social. Continuam por aí, entre nós. Não houve prisões. O que houve foi praticamente um aviso de despejo.
Obviamente, quem vivia do tráfico vai buscar uma alternativa no mundo do crime para substituir seu “negócio” que foi desarticulado. O governador não envidou esforços para que houvesse diminuição nos índices de criminalidade, já que os criminosos continuam livres. O que houve foi a desarticulação de uma modalidade de crime. Era uma questão de tempo para que o perfil da criminalidade no Rio mudasse. E é exatamente o que vem acontecendo. O criminoso do tráfico diversificou suas formas de ação e está por aí praticando crimes de outra espécie. O Estado vai tentar explicar com linguagem técnica o motivo para a onda de arrastões. Mas a única certeza que podemos ter é que quem está praticando os arrastões são os mesmos que dominavam as comunidades com o tráfico. Um crime não é melhor nem pior que o outro, é apenas diferente.
Um outro ponto que é uma incógnita: por que a onda de violência esperou a reeleição do governador para começar? Sabemos que muitos deputados e vereadores foram e continuam sendo eleitos com o apoio dos “donos” das comunidades. Teria havido um acordo de cavalheiros entre o tráfico e políticos que tinham interesse na reeleição do governador?
Mais uma pergunta que não quer calar: por que nenhuma comunidade dominada por milícia entrou no planejamento de ocupação por UPP?

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Memória

Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
desencaixotar minhas emoções verdadeiras,
desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
mas um animal humano que a natureza produziu.
Isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender...

Alberto Caeiro

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Essência

Enfim, ressurjo de um longo período sabático,
hibernada em minhas reminiscências.
Sem buscar, me auto-conheci um pouco mais.
Morri e renasço agora, outra.
Ainda não conheço. 
Penso estar adolescendo,
nunca é tarde.
Espero adolescer outras vezes ainda,
me faz viva.
Dói,
mas na ausência de dor não se alcança a plenitude.
Talvez nada disso seja real,
apenas um desejo.

Arte e História

A arte é a expressão da sociedade em seu conjunto: crenças e idéias que fazem de si e do mundo. Diz tanto quanto os textos de seu tempo, às vezes até mais.


Georges Duby

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Desperdício

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 6 de novembro de 2010

Momento "Sampa"


Fiquei muito impressionada com o Museu da Língua Portuguesa. Imperdível! Não dá pra ir a São Paulo e não visitar. Fica a dica. E o melhor é que além de suas exposições serem maravilhosas, ele fica ao lado da bela Estação da Luz e em frente à Pinacoteca. É uma overdose de beleza...

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Ser Poeta

Ser Poeta não é escrever poemas, é ser poesia.


Sérgio Vaz

O Bicho

Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.


Manuel Bandeira

Poemeto Erótico

Teu corpo claro e perfeito,
Teu corpo de maravilha
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...

Teu corpo branco e macio
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...

Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...

Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...

É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...

Volúpia de água e da chama...

A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...


Manuel Bandeira

domingo, 24 de outubro de 2010

Por que mudar é tão doloroso?

Estamos todos, por mais resolutamente revolucionárias que sejam nossas disposições subjetivas, vulneráveis a impregnações conservadoras sutis. Temos medo de assumir todos os riscos inerentes à autotransformação.
Como poderíamos alterar tranqüilamente as bases da construção teórica que faz de nós aquilo que somos? A palavra "alterar"  vem do latim alter, o outro. Quem empreende um ajuste de contas com suas convicções e decide alterar seus conceitos corre o risco de virar outro, de perder sua identidade.
É compreensível que a mudança nos assuste.
Mudar é correr o risco de morrer.

Leandro Konder

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Freixo fala de "Tropa"



Declaração do deputado estadual Marcelo Freixo sobre o filme "Tropa de Elite 2" e sobre o personagem que foi inspirado nele.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Lacunas

Eu sou os lugares aonde irei
As músicas que ainda hei de ouvir
Os filmes que assistirei
E os livros que ainda não li.

Manoel de Barros


A maior riqueza do homem é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um sujeito que abre
portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que
compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora,
que aponta lápis, que vê a uva etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.

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Tem mais presença em mim o que me falta.

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A poesia de Manoel de Barros dispensa comentários.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pagu



Em homenagem a todas as grandes mulheres que conheço, que fazem do nosso gênero o sexo forte, sem perderem a delicadeza.

Marcelo Freixo - um herói contemporâneo

http://books.google.com.br/books?id=-WEEAAAAMBAJ&pg=PT69&dq=o+aval+da+onu+para+entrar+na+guerra+e+negociar+a+paz&hl=pt-BR&ei=cb60TO2kE4T48AaDxbnoCw&sa=X&oi=book_result&ct=book-thumbnail&resnum=1&ved=0CC4Q6wEwAA#v=onepage&q=o%20aval%20da%20onu%20para%20entrar%20na%20guerra%20e%20negociar%20a%20paz&f=false

Se alguém ainda tem dúvidas sobre os motivos pra esse cara ser considerado um herói, é só ler essa entrevista, concedida há 8 anos.
Freixo acaba de ser reeleito para seu 2º mandato, como deputado estadual do Rio. O 2º mais votado do estado.

Festa da Vitória



A consciência da boa política, enfim, renasce nos corações e mentes fluminenes.

Eu preciso dizer que te amo... Cazuza & Bebel



Esse DNA Buarque de Hollanda é poderoso!!

Roberta Sá e Chico Buarque - Mambembe



Adoro isso!! Não me canso de ouvir...

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Pequena Miss Sunshine

Divido um trecho de texto escrito pela querida amiga Lucia Cordeiro, se referindo ao filme "Pequena Miss Sunshine". Pôr essas palavras em prática deve ser um exercício diário. Como dizia Benjamin Disraeli: "A vida é muito curta para ser pequena".

"A Felicidade não é para os covardes.
Ela está na coragem de reinventar momentos, de correr riscos e foge do paradigma estabelecido pelo senso comum porque é muito particular.
E não se prende à possibilidade de perpetuação desse estado.
Se puderes ser feliz durante 30 minutos ou 30 dias, mesmo correndo riscos, tenha coragem suficiente para fazê-lo porque a felicidade não tem prazo, tem intensidade.
Mesmo que contrarie o grupo ao qual estejas ligado, e que provoque reações negativas no mesmo.
Lembre-se: o grupo não suporta dissidentes. Ele inveja a coragem e aposta no fracasso."

http://nasesquinasdafarme.blogspot.com/

Kamchatka



Minha história com este filme é engraçada. Entrei na Casa França Brasil para asistir "O Homem que Copiava". Ao sentar na poltrona da sala de exibição, percebi que os atores falavam espanhol. Levantei e perguntei à bilheteira se não exibiriam o filme de Jorge Furtado naquela sessão. A mulher me respondeu que o filme brasileiro tinha saído de cartaz no dia anterior.
Já que estava lá, terminei de assitir o filme. Foi, para minha surpresa, um dos mais belos filmes que assisti na vida. Era de nacionalidade argentina e se chamava Kamchatka, dirigido por Marcelo Pinheiro.
Deixo uma pequena amostra...

Tropa de Elite 2

Ainda sob o impacto de “Tropa de Elite 2”, lembrei-me de um dado interessante que li em algum lugar há alguns anos. O texto afirmava que algumas favelas da zona sul da cidade do Rio de Janeiro apresentavam IDH equivalente ao de regiões miseráveis da África. Enquanto em bairros como o Leblon, por exemplo, o IDH equivalia ao de países europeus. Esse abismo social é uma forma cruel de violência. Esta é a matriz para todas as outras variações da violência que vemos retratadas no filme.
O Rio de Janeiro é a cidade dos paradoxos. Na introdução de “Vigiar e Punir”, de Michel Foucault, há uma detalhada descrição de uma sessão de tortura ocorrida na Idade Média. Como não fazer uma analogia com o que acontece no Rio? No filme, a cena de violência contra a jornalista nos aproxima das cruéis torturas medievais. Apesar da distância temporal e geográfica, é como se a sociedade tivesse permanecido estática por meio milênio. A barbárie da Europa medieval está presente no cotidiano carioca, em pleno século XXI. Realidade perversa e anacrônica.
Por estes motivos, “Tropa de Elite 2” pode ser considerada uma obra ficcional, sim, mas que retrata a dura e triste realidade semi-invisível que está ao nosso lado e não vemos, ou fingimos não ver, por comodidade. Sua corajosa crítica social é fundamental pra nos sacudir e dizer: “tudo isso está acontecendo debaixo dos seus olhos! Acorde!”.