sábado, 27 de novembro de 2010
Cidade Maravilhosa
A recente onda de terror instaurada pelo tráfico nas ruas do Rio, só faz reafirmar nosso amor incondicional pela cidade, que, apesar de tão maltratada, sobrevive impoluta em meio à violência. Ela é maior e sairá vitoriosa dessa guerra. Acolhedora, acordou linda nesta manhã de sábado e continuará a nos brindar com sua beleza. A despeito da violência, seu eloquente encanto nos diz, a cada amanhecer, que seus algozes não serão suficientes para derrotá-la.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Lucidez
Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de ser mulher...
Hoje cedo desejei ardentemente ser a garota que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena...
No entanto, não quero acreditar: um ato de fé é o ato mais desesperado que existe e quero que meu desespero pelo menos conserve sua lucidez. Não quero mentir para mim mesma.
Simone de Beauvoir
Hoje cedo desejei ardentemente ser a garota que comunga na missa da manhã e tem uma certeza serena...
No entanto, não quero acreditar: um ato de fé é o ato mais desesperado que existe e quero que meu desespero pelo menos conserve sua lucidez. Não quero mentir para mim mesma.
Simone de Beauvoir
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Poder Paralelo
Os últimos episódios de violência no Rio estão envoltos numa série de questões que carecem de incansáveis debates da sociedade.
Todos nós já sabíamos que a implantação das UPPs nas comunidades dominadas pelo tráfico era uma medida paliativa. Levar a presença do Estado à comunidade apenas como forma repressora não resolveria o problema. Não houve uma ação conjunta de políticas públicas de educação e saúde, por exemplo. Somente a polícia não pode resolver um trágico fenômeno social consolidado há décadas. A ação deveria ser conjunta e heterogênea. A polícia deveria estar acompanhada de outros profissionais que prestariam serviços que, historicamente, nunca chegaram às comunidades.
Outra questão que foi absolutamente desconsiderada pelo governador e seus técnicos foi a inexistência de planejamento de retirada daqueles que comandavam o tráfico nas comunidades. A Secretaria de Segurança anunciava com alguns dias de antecedência que haveria ocupação de determinada comunidade. Assim, os traficantes tinham tempo suficiente para arrumar suas malas e saírem tranquilamente, sem serem importunados. Esses homens não foram retirados do convívio social. Continuam por aí, entre nós. Não houve prisões. O que houve foi praticamente um aviso de despejo.
Obviamente, quem vivia do tráfico vai buscar uma alternativa no mundo do crime para substituir seu “negócio” que foi desarticulado. O governador não envidou esforços para que houvesse diminuição nos índices de criminalidade, já que os criminosos continuam livres. O que houve foi a desarticulação de uma modalidade de crime. Era uma questão de tempo para que o perfil da criminalidade no Rio mudasse. E é exatamente o que vem acontecendo. O criminoso do tráfico diversificou suas formas de ação e está por aí praticando crimes de outra espécie. O Estado vai tentar explicar com linguagem técnica o motivo para a onda de arrastões. Mas a única certeza que podemos ter é que quem está praticando os arrastões são os mesmos que dominavam as comunidades com o tráfico. Um crime não é melhor nem pior que o outro, é apenas diferente.
Um outro ponto que é uma incógnita: por que a onda de violência esperou a reeleição do governador para começar? Sabemos que muitos deputados e vereadores foram e continuam sendo eleitos com o apoio dos “donos” das comunidades. Teria havido um acordo de cavalheiros entre o tráfico e políticos que tinham interesse na reeleição do governador?
Mais uma pergunta que não quer calar: por que nenhuma comunidade dominada por milícia entrou no planejamento de ocupação por UPP?
Todos nós já sabíamos que a implantação das UPPs nas comunidades dominadas pelo tráfico era uma medida paliativa. Levar a presença do Estado à comunidade apenas como forma repressora não resolveria o problema. Não houve uma ação conjunta de políticas públicas de educação e saúde, por exemplo. Somente a polícia não pode resolver um trágico fenômeno social consolidado há décadas. A ação deveria ser conjunta e heterogênea. A polícia deveria estar acompanhada de outros profissionais que prestariam serviços que, historicamente, nunca chegaram às comunidades.
Outra questão que foi absolutamente desconsiderada pelo governador e seus técnicos foi a inexistência de planejamento de retirada daqueles que comandavam o tráfico nas comunidades. A Secretaria de Segurança anunciava com alguns dias de antecedência que haveria ocupação de determinada comunidade. Assim, os traficantes tinham tempo suficiente para arrumar suas malas e saírem tranquilamente, sem serem importunados. Esses homens não foram retirados do convívio social. Continuam por aí, entre nós. Não houve prisões. O que houve foi praticamente um aviso de despejo.
Obviamente, quem vivia do tráfico vai buscar uma alternativa no mundo do crime para substituir seu “negócio” que foi desarticulado. O governador não envidou esforços para que houvesse diminuição nos índices de criminalidade, já que os criminosos continuam livres. O que houve foi a desarticulação de uma modalidade de crime. Era uma questão de tempo para que o perfil da criminalidade no Rio mudasse. E é exatamente o que vem acontecendo. O criminoso do tráfico diversificou suas formas de ação e está por aí praticando crimes de outra espécie. O Estado vai tentar explicar com linguagem técnica o motivo para a onda de arrastões. Mas a única certeza que podemos ter é que quem está praticando os arrastões são os mesmos que dominavam as comunidades com o tráfico. Um crime não é melhor nem pior que o outro, é apenas diferente.
Um outro ponto que é uma incógnita: por que a onda de violência esperou a reeleição do governador para começar? Sabemos que muitos deputados e vereadores foram e continuam sendo eleitos com o apoio dos “donos” das comunidades. Teria havido um acordo de cavalheiros entre o tráfico e políticos que tinham interesse na reeleição do governador?
Mais uma pergunta que não quer calar: por que nenhuma comunidade dominada por milícia entrou no planejamento de ocupação por UPP?
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
Memória
Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
desencaixotar minhas emoções verdadeiras,
desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
mas um animal humano que a natureza produziu.
Isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender...
Alberto Caeiro
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
desencaixotar minhas emoções verdadeiras,
desembrulhar-me e ser eu, não Alberto Caeiro,
mas um animal humano que a natureza produziu.
Isso exige um estudo profundo,
uma aprendizagem de desaprender...
Alberto Caeiro
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Essência
Enfim, ressurjo de um longo período sabático,
hibernada em minhas reminiscências.
Sem buscar, me auto-conheci um pouco mais.
Morri e renasço agora, outra.
Ainda não conheço.
Penso estar adolescendo,
nunca é tarde.
Espero adolescer outras vezes ainda,
me faz viva.
Dói,
mas na ausência de dor não se alcança a plenitude.
Talvez nada disso seja real,
apenas um desejo.
hibernada em minhas reminiscências.
Sem buscar, me auto-conheci um pouco mais.
Morri e renasço agora, outra.
Ainda não conheço.
Penso estar adolescendo,
nunca é tarde.
Espero adolescer outras vezes ainda,
me faz viva.
Dói,
mas na ausência de dor não se alcança a plenitude.
Talvez nada disso seja real,
apenas um desejo.
Arte e História
A arte é a expressão da sociedade em seu conjunto: crenças e idéias que fazem de si e do mundo. Diz tanto quanto os textos de seu tempo, às vezes até mais.
Georges Duby
Georges Duby
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Desperdício
A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade.
Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade
sábado, 6 de novembro de 2010
Momento "Sampa"
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira
Na imundice do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa;
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira
Poemeto Erótico
Teu corpo claro e perfeito,
Teu corpo de maravilha
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo branco e macio
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...
A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
Manuel Bandeira
Teu corpo de maravilha
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo branco e macio
É como um véu de noivado...
Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...
Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...
A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...
Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa, flor de laranjeira...
Manuel Bandeira
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